domingo, 4 de abril de 2010

Microbios da raça humana - um alerta

(Cleusio Hamilton Santos - vice presidente CCRB)


Eu também já tive uma vida. Eu também já tive roupas finas, sapatos bonitos, vizinhos e vizinhas. Eu também já tive amigos e amigas. Também já tive mãe, pai, irmão, irmã, tios, tias, primos, primas. É verdade, eu também já tive uma vida.
Eu tive um dia o começo da destruição com alguém que me disse:
- Aí, dá umas bolas nesse baseado. Tu vai viajar. Vai, experimenta, meu! É massa, cara! Você vai viajar numa lombra muito boa, bicho!
- Não, meu. Eu tenho os meus estudos, minha família. Não preciso disso. Tenho o meu carro, tenho umas minas sadias. Não quero não.
- Que nada, meu! Uma vez só não faz mal nenhum. É, veio! A primeira vez, a segunda, a terceira, a quarta...
E a mentira pra mim mesmo:
- Ah! Não tem nada a ver! Eu só fumo bagulho nas finais de semana, por curtição. Não sou viciado não. É só por esporte.
E aí começou tudo. O final de semana virou segunda, terça, quarta, quinta sexta, sábado, domingo. Uma, duas, três, dez vezes por dia. E aí vieram a coca, a beladona, o cogumelo, os psicotrópicos, as anfetaminas, etc. E a loucura e a doença foram a cada dia crescendo. E a viagem não tinha fim. Pois eu queria conhecer cada vez mais uma viagem mais louca e mais forte a cada dia que passava.
E lá foram ficando para traz meus pais, meus irmãos, meus verdadeiros amigos. E eu fui me afastando. Fui perdendo a dignidade, o caráter, a saúde. Mergulhando num pântano recheado de falsos amigos. Mergulhando em pó fumo, ácido, heroína, barbatúrios. Muita droga, o tempo todo.
E lá se foi meu carro, meus estudos, meu futuro, desesperançoso por um presente doentio e incerto.
Entre viagens e lombras eu fui morrendo em vida, dia a dia, sem forças para renascer. Meus pais, minha família se foram. Aliás, eu é que fui me distanciando. Fui sumindo. Afastando-me cada vez mais.
Deus não se afastava de mim. Apenas se entristecia ao me ver indo embora por caminhos sem flores e com espinhos, não dando a Ele a chance de me ajudar. Sim, porque parecia que até ele não tinha mais sentido.
É verdade... Um dia eu também tive uma vida.
Onde estão minha família e meus verdadeiros amigos? Meu Deus! Onde eu estou? Será que este poço não tem mais fim? O que foi que eu fiz comigo mesmo? Por que é que eu apodreci minha alma regando o frio brilho do pó em minhas veias? Porque os meus olhos estão sedentos, pintados de vermelho como brasas quentes sedentas de destruição? O que de bom existe em minha boca, seca, sem saliva e sem gosto de vida? O que de prazer existe neste falso encanto dessas lombras? O que de verdade existe nesta hipocrisia desse sorriso amarelo, dessa falsa alegria, quando esse sorriso, com gosto e jeito de choro, me faz mentir para mim mesmo dizendo: “Pô meu, que lombra massa. Tô muito doido...”?
Ah! Meu Deus queria tanto poder sorrir de verdade e não enganar a mim mesmo! Poder novamente abraçar quem um dia me amou de verdade e, eu como otário, me afastei. Será que um dia eu renascerei?
Será que um dia eu vou me curar deste câncer chamado destruição, dessas drogas nojentas, desse falso encanto?
Senhor! Eu me envergonho da minha fraqueza. Não tenho forças para sair daqui, do fundo desse poço triste aonde cheguei. Eu quero viver... Eu quero viver... Eu quero viver...
Minhas lágrimas nem cristalinas são mais. São foscas, sem vida pela perda do brilho da vida sadia que existia em minha alma.
Como é triste saber que eu não sou o único Micróbio da Raça Humana. Que pela falta de informação, pela falta de educação e de diálogo, pela falta de um tratamento digno novos micróbios surgirão. E que pela falta de solidariedade dos sadios os doentes podem nunca mais sarar e por isso não vão mais viver e sim vegetar.
É pavoroso estar morto em vida. É triste apenas vegetar. Viver de fantasias e ilusões é estar morto em vida.
Eu quero um sorriso amigo. Quero um verso, uma canção que leve a toda essa gente que vive perdida na escuridão muita luz, muita paz e muita realidade em seus corações.

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